quinta-feira, 22 de março de 2012

Do Jornalista Claudio Amaral para Irigino Camargo

Mestre Irigino Camargo

A história desta semana é novamente uma colaboração de Cláudio Amaral (clamaral@uol.com.br)


Tive mais de um mestre nestes
44 anos de Jornalismo. Mas tem
um que se destaca mais do que
os outros todos: Irigino Camargo.
Por mais de 30 anos ele foi dono,
diretor de Redação e diretor responsável
no Jornal do Comércio
de Marília (SP).
Foi lá, no JC, que eu comecei.
Primeiro como correspondente
em Adamantina, minha cidade
natal. Depois como repórter e secretário
de Redação em Marília. E
finalmente como correspondente
em São Paulo.
Conheci Irigino Camargo pessoalmente
em 1968, numa viagem
que fiz a Marília em companhia de
meus colegas que jogavam tênis
de mesa pela equipe de Adamantina.
Eu era do time B, mas tinha
o maior orgulho disso. Na época
eu já era correspondente em Adamantina
e fui visitar o homem que
me dera a primeira oportunidade
no Jornalismo Profissional, a partir
de 1º/5/1968.
Foi uma visita inesquecível. Até
porque ele disse, diplomaticamente,
que meus títulos eram bons,
mas poderiam melhorar ainda
mais. E me deu um livro dedicado
inteirinho à feitura de títulos para
jornal. Devorei o livro e me tornei
fã de títulos, sem jamais ter deixado
de cuidar dos textos, minha
grande paixão.
No final de 1968, numa nova
visita ao JC, em Marília, falei com
um amigo, por telefone, e disse
a ele que estava aguardando um
convite para me transferir para a
sede do jornal. Irigino escutou e
me convidou, assim que encerrei
a ligação.
Cheguei a Marília no dia 5 de
janeiro de 1969, um domingo. E
na 2ª.feira, logo cedo, estava no
jornal. Saí a semana inteira com
o repórter Francisco Giaxa para
conhecer locais e pessoas. Em
seguida, o mestre me instalou
numa pequena mesinha que tinha
uma máquina de escrever em
cima e ali eu meti as caras nos
textos e títulos.
Nos primeiros dias, ainda me
adaptando à cidade grande – ou
pelo menos bem maior do que
Adamantina – escrevi algo assim:
A Prefeitura e a Câmara funcionam
no Passo Municipal...”.
Irigino me corrigiu no ato: “Neste
caso, é paço com ç. Com ss é
passo de andar, caminhar”. Mal
sabia ele (ou sabia?) que na minha
cidade não tinha aquele tal de
Paço Municipal.
Seis meses depois Irigino me
chamou à porta do jornal e me
apresentou a Stipp Júnior. Ele
era da equipe de repórteres do
Estadão, tinha base em Taubaté
e constantemente viajava pelo
Estado de São Paulo e pelo Brasil.
Até para o exterior tinha ido.
Stipp estava em Marília para
uma série de reportagens e também
para encontrar um correspondente
fixo para o Estadão. Ao nos
apresentar, Irigino disse a Stipp:
Está aqui o correspondente que
você procura”. E não deu chance
para recusa.
Atravessamos a rua 9 de Julho
e fomos tomar minha bebida
preferida na época: Fanta Laranja.
Conversamos por horas e ficamos
combinados que Stipp falaria a
meu respeito com Raul Martins
Bastos, chefe dos correspondentes
do Estadão, que tinha a última
palavra para minha contratação.
A resposta veio em menos de
uma semana e eu comecei uma
nova e sonhada fase da minha

carreira como jornalista – tal como
havia previsto ao sair do Cine
Santo Antônio, após a solenidade
de formatura dos ginasianos do
Instituto Educacional Hellen Keller,
de Adamantina, em fins de 1967.
Isso, entretanto, não foi tudo que
Irigino Camargo fez por mim. Antes
de ser contratado pelo Estadão, ou
seja, no meu terceiro mês em Marília,
ele me chamou e avisou que
iria me registrar como “repórter
estagiário” do JC, porque eu estava
a merecer. Dei pulos de alegria.
Esse registro foi fundamental para
minha efetivação como “repórter”
quando entrou em vigor a lei que
em 1969 reconheceu a profissão
de jornalista.
Irigino Camargo foi importante
para mim também porque em
fins de 1970, pouco antes que eu
completasse dois anos de atuação
como jornalista, disse a ele, com a
voz trêmula e as pernas bambas,
que havia recebido um convite de
Raul Martins Bastos para me transferir
para a sucursal de Campinas
do Estadão. E para minha surpresa,
o mestre me disse: “Se você não
for eu te dou uma surra no meio da
rua”. Nos abraçamos pela primeira
vez e liguei imediatamente para o
Raul para anunciar que aceitava
a transferência. De Campinas fui
para São Paulo e da capital paulista,
para o Brasil e o mundo.
Nos cinco anos de Estadão conheci
gente grande como Eduardo
Martins, Ludemberg Góis, Clóvis
Rossi, Ricardo Kotscho, Oliveiros
S. Ferreira, A. P. Quartim
de Moraes, Luiz Carlos Ramos
(que me ensinou que “escrever é
como costurar...”), Ney Craveiro
(com quem aprendi a escrever
a respeito de tênis, boxe e basquete),
Luiz Roberto de Souza
Queiroz, Reginaldo Leme, João
Prado de Almeida Pacheco, Tuca
Pereira de Queirós, Ariovaldo
Bonas (Lins), Evandro Carlos
de Andrade (Brasília), Frederico
Branco, Ethevaldo Siqueira,
Darci Higobassi, Raul Quadros
(Rio), Mário Erbolato (Campinas),
Luiz Salgado Ribeiro, Sircarlos
Parra Cruz, Daniel Pereira, Silvio
Sérgio Sanvito, José Rodrigues
(Ourinhos e depois Santos), Augusto
Nunes, Osvaldo Martins,
Carlos Conde, Robert Appy,
Gelulfo Gonçalves, Itaborahy
Martins, Carlos Monforte, Carlos
Alberto Manente, Roberto Dantas,
Saul Galvão, Carlos Garcia
(Recife), Reginaldo Manente,
Miguel Urbano Rodrigues, Frederico
Heller, Alberto Tamer,
Décio Miranda (Porto Ferreira),
Sérgio Coelho (Sorocaba), Carlinhos
Whinter (Santos), César
Savi (Bauru), Antônio Higa (São
José do Rio Preto), Waldo Claro,
Everton Capri Freire, Dinaura
Landini, Adélia Borges, entre
tantos outros.
Irigino Camargo faleceu em
junho de 2004. Foi pai do também
jornalista Ariadne Penteado Camargo,
que trabalhou por décadas
no Estadão e no Jornal da Tarde e
morreu em 17/12/2010.


Jornalista Claudio Amaral

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