segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Misuzu (Tanka)



Kaneko Misuzu
Ave branca a brincar
Nuvens de algodão
Mistérios a indagar
Versos em céus orientais
*****************************************************







Ano: 1903 ~ 1930
Kaneko Misuzu – a lendária poetisa
(Texto: Daniela Karasawa/NB | Ilustração: Claudio Seto)
Uma poetisa que está, recentemente, recebendo uma reavaliação bastante positiva. Trata-se de Kaneko Misuzu, uma escritora que surgiu e desapareceu como um cometa, nos fins da Era Taisho. Suas obras, constituídas de 550 poesias infantis encontradas 50 anos após a sua morte, foram sucessivamente publicadas. Mesmo atualmente, decorridos 70 anos, as suas poesias, escritas com delicada linguagem que expressa com certa tristeza e compreensão a vida cheia de frescor do mundo natural, tocam o coração das pessoas. Seus versos constam também dos livros didáticos de Língua Pátria do ensino fundamental e médio.
A era de ouro das canções infantis
A época em que a poetisa viveu é denominada “Democracia da Era Taisho”, marcada pela transição da Era Meiji, em que havia resquícios do sistema feudal, pela liberdade de expressar livremente a opinião e o pensamento próprios, pelo fato de a literatura e a arte terem deixado de ser regalias de uma pequena elite, e pelo surgimento da classe média, com o desenvolvimento da economia. Com a chegada da Era Showa, os militares adquiriram poderes, transformando o período em uma era sombria, quando se iniciou a opressão à liberdade de expressão.
Mesmo no mundo das canções infantis, havia poetas que consideraram impróprias para educação da sensibilidade infantil as canções praticadas por imposição do governo no curso fundamental. Eram eles: Kitahara Hakushu, Noguchi Ujo, Takehisa Yumeji, Saijo Yaso, etc. Revistas de histórias infantis foram também editadas sucessivamente. A primeira pessoa que reconheceu o talento da poetisa foi Saijo Yaso, colocando-a no mesmo nível de Yosano Akiko. Ele expressa da seguinte forma as impressões causadas por Misuzu: “Esta jovem poetisa, que em suas obras mostrou uma fantasia requintada como a da inglesa Christina Rossetti, pareceu, à primeira vista, tratar-se de uma dama de uma pequena venda de um subúrbio comum. Mas a sua aparência era de elegância, e seus olhos tinham um profundo brilho como pedra obsidiana”.
Os críticos analisam seus versos da seguinte forma: “Fazem transcender longínquas épocas, submergindo ainda mais profundamente no eu e no universo e fazem pressentir um mundo amplo que existe além dele. O resplendor dos seus poemas, que nos lembram belas estrelas, deve-se a esse brilho misterioso da alma”.
Uma breve vida de 26 anos
Seu pai, Kaneko Shonosuke, faleceu quando Misuzu tinha 3 anos; e seu irmão, Masasuke, apenas 1 ano. O irmão foi adotado pela família da irmã mais nova de sua mãe. Mais tarde, esta tia também faleceu, e Michi, mãe de Misuzu, casou-se novamente. Shozo Uemura, que passou a ser padrasto de Misuzu, possuía um amplo comércio de livros em Shimogaseki. Misuzu, após concluir o colégio para meninas, passou a ajudar nesta livraria. Desde esta época, começou a enviar seus trabalhos a revistas de canções e poemas infantis, sob pseudônimo de Kaneko Misuzu. Na ocasião, não sabia da sua consangüinidade com o irmão adotivo. O irmão tinha o sonho de tornar-se um compositor em Tóquio e compunha músicas para os versos de Misuzu; assim, os dois foram se sentindo atraídos mutuamente. Quem guardara todas as suas obras fora este irmão. Entretanto, para afastá-los, foi proposto a Misuzu o matrimônio com um dos funcionários da livraria. Não sendo possível recusar, ela se casou aos 24 anos. Seu marido lhe proibiu qualquer atividade literária. Teve uma filha, mas se separou do marido aos 26 anos. Na véspera da data em que deveria abrir mão da sua filha, suicidou-se.

Eu, o pássaro e o guizo Por mais que eu estenda os braços,
Não consigo voar pelo céu;
Mas o pássaro que pode voar,
Não pode correr por terra, veloz como eu.

Por mais que eu balance o corpo,
Não produzo lindos sons;
Mas o guizo que pode fazê-lo,
Não conhece tantas canções como eu.

O guizo, o pássaro e eu.
Somos todos diferentes; e gosto de todos.

Mistérios
É tudo muito misterioso;
Como pode a chuva que cai de negras nuvens
Ter este brilho prateado.

É tudo muito misterioso;
Como os bichos-da-seda que comem folhas verdes da amoreira,
Podem se tornar brancos.

É tudo muito misterioso;
Como pode a flor da cabaceira abrir-se sozinha,
Sem que alguém a toque.

É tudo muito misterioso;
Que a quem quer que eu indague,
Todos riem dizendo que isso é óbvio.





Nenhum comentário:

Postar um comentário