quarta-feira, 29 de julho de 2009

Morte lenta

MORTE LENTA

Cansada estou e afirmo, há goteiras
Não me importa o último abrigo
As bandeiras que ergui, não as sigo
Recato de donzela e boas maneiras
Estão longe de mim, sou verdadeira
Dos amigos que fiz, nunca os julguei
Por me esquecerem, eu apenas os amei
Espero paciente minha última morada
À sombra de uma árvore encorpada
Há goteiras, lágrimas que derramei.

Já não me vem aos olhos tamanho pranto
Nem tenho ganas por reles aparatos
A desmesurar abandono os sapatos
Sento-me pesadamente em um canto
Buscando acalmar tal desencanto
Embaixo dos ramos das chorosas
Pendidas em consolação e ditosas
A sussurrarem com o vento de agosto
Frases repetidas para o meu desgosto
Não vás podes viver outro tanto!


Assim digo: poeta sabe do seu fim
Como poeta não sou, plagiei os versos
Do anjo da morte, mote tão perverso
Que me enterra viva neste jardim
Onde só as chorosas velam por mim
Aos confins elevo meu derradeiro pensar
Que sobreviva ao menos a poesia, o cantar
Lirismo e velas acesas de intelectos
Hão de pernoitar meu velório, como afetos
E dejetos daqueles que só fizeram me odiar!

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