MORTE LENTA
Cansada estou e afirmo, há goteiras Não me importa o último abrigo As bandeiras que ergui, não as sigo Recato de donzela e boas maneiras Estão longe de mim, sou verdadeira Dos amigos que fiz, nunca os julguei Por me esquecerem, eu apenas os amei Espero paciente minha última morada À sombra de uma árvore encorpada Há goteiras, lágrimas que derramei.
Já não me vem aos olhos tamanho pranto Nem tenho ganas por reles aparatos A desmesurar abandono os sapatos Sento-me pesadamente em um canto Buscando acalmar tal desencanto Embaixo dos ramos das chorosas Pendidas em consolação e ditosas A sussurrarem com o vento de agosto Frases repetidas para o meu desgosto Não vás podes viver outro tanto!
Assim digo: poeta sabe do seu fim Como poeta não sou, plagiei os versos Do anjo da morte, mote tão perverso Que me enterra viva neste jardim Onde só as chorosas velam por mim Aos confins elevo meu derradeiro pensar Que sobreviva ao menos a poesia, o cantar Lirismo e velas acesas de intelectos Hão de pernoitar meu velório, como afetos E dejetos daqueles que só fizeram me odiar!
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